Estrangeira
Eu sou estrangeira
Falo em uma língua que não é a minha
Mas qual a minha língua? Eu não sei falar
Não sei falar nem meu nome
Uso o que me deram ao me batizar
Nasci numa terra que não me pertence
Não pedi para vir, não quero ficar,
e não querem que eu fique
Quero voltar
Mas se quando eu volto dizem a mim
Quem é você? qual o seu povo, qual sua terra?
Eu não sei falar, a unica terra que conheci não é minha, só fui levada para lá
Não sei de onde meu povo veio
Sei que partiram de algum ponto deste grande pedaço de terra, mas não sei em que eira e nem beira, mas queria ficar
Então me tocam embora, pois se não sei meu nome, minha língua, minha terra, não tenho para onde voltar, nao tenho lar, não sou de lá
Então minha nação fica aqui, no meio do atlântico onde submergem navios negreiros
Onde flutua a dor de quem preferiu se afogar no salgado do mar, ao tolerar salgado das lagrimas
Minha pátria é o banzo de quem não queria viver
De quem não queria sequer comer
Mas comeu a dar com pau, pois era peça muito cara para deixar se matar
Minha bandeira é um pano cru, manchado com sangue e remendado com chita pra enfeitar.
É daqui que eu sou, é o único lugar onde posso ficar, porque em qualquer terra eu sou estrangeira, em nenhum outro canto eu tenho lar.